Vou a uma festa popular onde se encontram mais de cinco mil
pessoas.
Chinfrineira total.
À minha volta montes de gente feia a dançar com sorrisos
sujos de orelha a orelha.
Orelhas
e cabelos feios, abraçados por braços feios embuidos em sorrisos feios, em
salivas de sabores feios num calor nocturno e feio, ao som de música feia.
(A
música feia mais alegre do mundo.)
Estou rodeado de casais feios a beijarem-se desmesuradamente,
num mar de encontrões feios e voltinhas e amassos feios.
Tudo isto num manto de edifícios feios, com tinta de
construção feia, numa noite de céu feio, num frio muito quente e feio que
abraça esta noite feia e de festa.
Aqui os feios são mais felizes.
Eis a frase que resume tudo o que sinto sobre esta
desconhecida sociedade até então.
Imerso na minha tontice, sempre fui crente de uma estreita
relação entre beleza e felicidade.
Que as pessoas mais bonitas eram as mais confiantes.
E cada vez mais a palma da minha mão bate sobre a minha
cabeça.
Ainda não sei nada sobre a vida, ainda bem que sou viajante.
(Ia limpar e retocar este poema, trocar os clichés e
substituí-los por silêncio, mas vou deixá-lo sujo e feio.)
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