Ok. Participar num Color Run se calhar não é o que mais tenha a ver comigo, mas fi-lo por várias razões. A primeira, por curiosidade e observação da sociedade que me rodeia. Estou completamente deslumbrado com o inventor desta cena. A margem de lucro deve ser incrivelmente astronómica. O projecto começou no Arizona em janeiro do ano passado e neste momento já foi feito em imensas cidades importantes dos cinco continentes. Cada evento destes leva à volta de 10.000 a 15.000 pessoas. (Principalmente meninas de 16/17 anos). Sim, quando cheguei senti-me logo a mais, mas até amigos portugueses de 30 anos encontrei, o que mostra todo um ambiente familiar que isto acaba por abarcar.
Mas afinal, o que leva 10000 pessoas a pagarem cada uma 10 lucas (15 euros) para correr 5km e levarem com tinta na cara?
Só pode ser uma questão de "hype", e, como li outro dia, um evento-produto de uma época onde "Partilho, logo existo".
A ideia é "roubada" ao festival religioso indiano "Holi" onde os crentes se pintam com estas cores e festejam divertidos pelas ruas. Tal facto deixa-me a pensar que outros festivais locais podem ser transformados em eventos a nível mundial que gerem margens de lucro enormes para for-profict organisations. Vamos agarrar nos martelinhos de S.João e fazer a Corrida do Martelanço por todas as principais capitais mundias?
Fica a ideia para o empresários mais aventurosos que queiram bater punho em tempo de crise.
De realçar que este festival não se assume com uma política "vamos enviar 50% do dinheiro para África de modo a descarregar o peso de consciência dos 15 euros por pessoa". Apesar de tambem terem a sua pequena parte de caridade em nada divulgada a não ser meio escondida no site oficial, é "pagar, correr, pintar e por no facebook". E de repente 10.000 pessoas participam.
Nos 15 euros que paguei, estava incluída uma t-shirt (que mais não deve custar que 1 euro e um saquinho de tinta para atirar às pessoas). A tinta tem um efeito muito bonito, cheira bem mas sabe mal e não sai do corpo tão facilmente quanto isso. O festival é patrocinado pela Powerade e todos os copinhos de bebida azul que são oferecidos às pessoas, de certeza que deve ser a própria Powerade que os oferece à Color Run de modo a fazer publicidade. Mais uma vez, as despesas parecem ser mesmo poucas.
Tirando as taxas de bloqueio de trânsito que devem ser assumidas pela organização, a verdade é que isto não passa de uma corrida de uma hora e meia, logo polícia e pessoas a organizar tudo acabam por não ser assim tantas, o que aumenta ainda mais a taxa de lucro.
Fiquei parvo ao pesquisar que em Portugal o preço do bilhete aumenta conforme o dia de compra, podendo a chegar aos 25euros para os que comprem na véspera. Aqui em Santiago, percebi que era perfeitamente possível participar em tudo sem pagar o bilhete, a única coisa que não usufruiria seria da t-shirt e do saco de tinta indiana que, afinal, até estavam a atirar alguns para o público que tivesse mais sorte na pontaria. De realçar ainda que no final do evento as ruas estavam uma lixeira autêntica de copos e sacos de tinta.
Para finalizar, espero não me ter explicado mal. No final de contas, eu gostei bastante de participar. Foi um dia feliz e divertido com amigos chilenos e portugueses e mais uma experiência social onde observei o mundo que me rodeia. Correr é do que melhor faz à saúde, e se até me custou correr os 5km, a verdade é que hoje as minhas pernas estão com aquela dor bem saudável de quem pôs os músculos a trabalhar. Se repetiria? Não. Mas até não me importava nada de num próximo evento destes ir correr lá para o meio sem ter pago o bilhete, obviamente.
Afinal de contas, correr na rua pública ainda é gratuito, a não ser que se tenha a cara pintada.
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